Relato de um suicida
"Ele é louco"!
E logo veio um pedido nervoso de silencio. Tratavam-me como um alienado, alguém que não sabia o que dizia.
- Sou louco mesmo...
Foi o que respondi a todos. E logo os murmúrios contidos surgiram, acompanhados a um olhar de reprovação.
- E vocês são vermes! Com veracidade bradei essa frase. Como um cão raivoso. Contaminado pelo ódio que anseia assassinato, com cacos de vidros nas mãos, ameaçava, enquanto perdia meu sangue quente. Gritava que não encostassem.
"Vocês viram isso"?! Todos assustados tentaram dentro de um conceito sensacionalista explicar a situação.
"Deve ser algum problema espiritual,"
- Não é espiritual é social! São vocês os culpados. Hipócritas, hedonistas, filhos de satã que dizem fazer a vontade de Deus.
CAPITULO I- UMA FAMILIA CRISTÃ
Chamo-me Eduardo tenho 18 anos de idade de família classe média tradicional cristã. Eu, porém, nada tenho de tradicional e para minha família sou um jovem esquisito. Uma afronta para suas crenças e costumes. Sou filho caçula, meus pais são pastores de uma denominação religiosa. Minha casa sempre cheia desses “crentes” com suas orações e canções a um Deus invisível, que às vezes eles mesmos não sabem por que estão ali? Todo domingo era a mesma rotina, o pai acordando todos (Eu, minha mãe E meus irmãos) para ir ao culto dominical: - Vamos lá pessoal está na hora de irmos, vamos que não quero chegar atrasado. Meu pai falava como um capitão chama seus soldados para a guerra. A família seguia naquela Fusca quente e no radio AM, uma musica que mais lembrava um funeral do que uma musica de louvor a Deus. E logo estavam todos ali reunidos com a aparência de amor e muita confraternização. Aquilo me embrulhava o estômago, todas aquelas pessoas ali reunidas como se a vida fosse mil maravilhas. Mas bastava um pouco de atenção e um sorrateiro olhar ao redor e você conseguia desmascarar muita gente. Dona Heloísa... Uma senhora gorda e super espiritual; que parecia cuidar mais da carne que o “espírito”. Não parava de falar mal da Helena. Uma jovem e atraente dançarina principal da igreja, que ficava com todos os rapazes da igreja. A cada domingo era um diferente. É claro que eu nunca caí no laço da dita cuja, até mesmo porque tinha uma aparência esquizofrênica que afastava todos. E no final da reunião como sempre, muitos abraços e cumprimentos. Os mais ricos sempre muito unidos, com suas roupas caras, falando de sua prosperidade financeira e os mais pobres excluídos, depositando tudo que tem na esperança que Deus possa através de um milagre suprir suas necessidades. Mas havia tanta gente rica ali não podiam dividir sua fortuna ou ajudar de alguma forma?Era realmente preciso pedir á Deus? E retornávamos para casa no mesmo fusca quente e com a mesma canção no rádio AM do carro. Minha Mãe mal entrava em casa e com a veemência de não possuir erros relatava as falhas de muitos da sua congregação. Aquilo era constrangedor; como eles poderiam ser tão mascarados uns com os outros e propalar sua fé como uma verdade transformadora, se eles mesmos não viviam essa verdade? A religião conseqüentemente entrou na minha vida de maneira devastadora. Aquele não poderia ser o Deus que criou o universo. E se fosse, porque seus seguidores eram tão mesquinhos. Então preferi não acreditar na existência de Deus e em nada que tivesse a fé como precursora.
CAPITULO II- MINHA REBELDIA
Não demoraria muito e já não iria com meus pais para a igreja. Gostava de ficar sozinho lendo meus livros e ouvindo meus discos. Tentei até freguentar os “points” da juventude para aliviar minha solidão, porém ficava cada vez mais doente. Procurava uma resposta para o desequilíbrio do universo, para esse modelo de civilização falido, esse aglomerados de pessoas que chamamos de sociedade. Parecemos um bando de bárbaros individualistas devorando uns aos outros. Talvez a revolta com o mundo ao meu redor seja a única substancia de vida que me mantenha vivo. Não aceito certos valores, propósitos e aspirações que o homem implantou com um ideal inexorável de sobrevivência. Nunca me encaixaria nesse sistema aparente. Por isso criei um mundo particular, abstrato aos olhos de todos. Em consequência da minha rebeldia às vezes torno-me inoportuno, inerente à antipatia. Trazendo na bagagem enfado e uma doença insanável chamada: O descontrole da carência ou apenas subterfúgios na tentativa de justificar meu fracasso. Sou um indolente tentando explicar o meu conformismo. Apenas medo de tentar. Um covarde e inepto atirando a culpa em algo ou alguém e na fuga me torno prolixo nas palavras e enfado a todos e a mim mesmo.
Nunca tive muitos amigos três ou quatro no Máximo. Nunca fui de procurar diversão nas noites, ansiando por sexo e na busca de um corpo perfeito. Quando ia numa micareta e era uma coisa bem rara. Ficava observando as meninas e os rapazes numa busca descontrolada pelo prazer aflorando na pele. Observando que o respeito e honestidade são virtudes pouco apreciadas na atualidade. Beije mais, use mais, abuse mais! É a prostituição sem pagamento, é ser vulgar e receber aplausos por isso. Transar a noite inteira e no dia seguinte na roda de amigos comentar tudo sem escrúpulos e achar vantagem em se deitar com quem mal sabe o nome. Não há valores, só sexualismo, quanto maior o decote, mais parceiros numa noite. Patricinhas arrumadinhas, se oferecendo como jantar para homens famintos. E tudo de graça, podem beijar, tocar, transar e ir embora. Estão todas se oferecendo nas micaretas, com suas roupas que anseiam sexo, parecem produtos descartáveis. São mentes adulteradas por uma mídia irresponsável que modificam caráter de meninos e meninas que correm em busca do corpo perfeito, dá relação amorosa perfeita, apenas por uma noite. Era para ser divertido, mas sempre voltava pra casa profundamente desditoso. Intimo da dor e escravo do penar. Lembrando daquelas pobres almas... Elas dançavam, bebiam e fumavam... Outras abraçavam,beijavam,desfaleciam... Mas no fundo eram almas vazias. Vazia tal como a minha. E no fim da festa arrastava-me pelas ruas, envergonhado e pífio. Procurava uma razão pra tudo aquilo e a resposta era um silêncio ensurdecedor.
CAPITULO III- MUNDO ABSTRATO
Retornava ao meu mundo abstrato, onde eu era meu próprio líder. Com as portas fechadas para o mundo real, deliciava-me em meus poemas e canções. Em alguns momentos sentia que algo estava ali comigo e de alguma forma controlava meus impulsos mais sombrios. Perguntava se era Deus quem estava ali e não havia resposta e minha falta de crença criava cada vez mais raízes. Aquele clima de paz involuntária que preenchia meu coração deveria ser constante. Mas era retirado de mim quando eu menos esperava e com tanta violência que ardia no meu peito como um punhal afiado. O que restava eram dúvidas, medo, rancor, ansiedade e um vazio devastador que ansiava um suicídio. Será que o mundo lá fora sabe dá minha existência...Sobre um individuo que está querendo fugir da realidade de um mundo que o oprime? Com certeza não sabe, pois a porta do meu universo continua trancada e não há ninguém que tenha o interesse de bater e procurar conhecer o meu universo particular. Por isso aqui aonde habito não há família, religião, governo. Fiquei cansado de esperar pelas respostas e também pelas pessoas certas. É um grande deserto, um exílio voluntário. Meu recrutamento reflexivo. O quarto da minha dor e confissões.
CAPITULO IX – FIM DE ANO
A festa mais triste e melancólica para mim é o natal, que tristeza... Aquelas pessoas felizes trocando presente em torno de uma árvore enfeitada e falando de "Papai Noel". E o Cristo que eles falam veementemente é quem menos se festeja. Coitado! Quase não é lembrado nas prosas eufóricas de burgueses e cristãos convictos. Num ar de paz e graça manifestam sentimentos de profunda confraternidade, acreditam de maneira hipócrita que os dias serão melhores e que o mundo vai possuir a paz que tanto anseia e mesmo que eles realmente amassem as pessoas de verdade e respeitasse seu semelhante, isso faria diferença?Atenuava o processo avançado para o fim da civilização, restauraria os recursos naturais e evitaria assim um fim repentino? E se caminhassem pela rua com uma cordialidade exacerbada, Cumprimentado até os animais, o assaltante que esperava na esquina iria pensar duas vezes, se comover e dizer no lugar de “isso é um assalto” um saboroso “bom dia”?Um novo comportamento uniria as pessoas ou o amor esvaiu na sua totalidade que do mesmo jeito iriam continuar ásperos e frios. Se ajoelhassem com toda fé e falassem com Deus pedindo amor ao mundo, alguma gota seria derramada?A única certeza é que já não chove esperança há muito tempo e os rios da virtude secaram e já não bebemos do amor. Mas é natal! É preciso comemorar!O fruto do nosso egoísmo, do paradoxo que humilha, da fartura que faz o pobre morrer de fome. Uma simbologia infantil e consumista... A distorção da imagem do Cristo. Muita bebida, Prostituição, as mesmas músicas de bordeis, micaretas e carnavais. Vamos celebrar aquele que esquecemos e crucificamos até em nossas lembranças. Um natal da angústia, lembrança das tragédias, da corrupção, do desprezo. Um feliz natal e um próspero ano novo, que de novo nada haverá. As mesmas guerras, mortes, fraudes... Mas enfim, é preciso ser social e mascarar o coração moribundo. Estas eram as palavras turbulentas na minha mente. Havia um enorme desejo de gritar os meus pensamentos para aquelas pessoas tão bem arrumadas e fingindo bondade e cordialidade. Naquele momento; por mais paradoxo que isso possa parecer, o conceito de família se esvaia como fumaça, uma sociedade aparente aumentava o desejo de verter meu sangue. Nem esperava chegar meia noite e já me recolhia ao som de fogos, risos e desespero e ao olhar pela janela do décimo andar via a cidade em euforia, imaginava uma salto libertador que silenciaria toda aquela alegria.
CAPITULO V- SOCIEDADE ESQUIZOFRÊNICA
Sempre me perguntava se era eu o enlouquecido ou o mundo ao meu redor. Vivia eternamente em conflito com os valores sociais estipulados. Na verdade queira ter mais tempo de vida para entender a própria vida, mas não consigo mesmo me adaptar. Parece que esse corpo não é meu, nem o capitalismo e eu nem entendo o que é, ou se existe civilização. Não entendo o que é qualidade de vida. Até aprendi a ter alguma fé em Deus, mas o silencio é perturbador. Na verdade quem são essas pessoas a minha volta e o que elas pensam, porque correm e para aonde estão indo?Sou tão estranho neste plano de existência, um cego no meio desse caos. Como eu queria enxergar, ter um entendimento soberano, mas meus olhos foram brutalmente arrancados. Quando aceito as regras dessa sociedade; regras sociais, políticas e religiosas sinto-me imundo com meus atos repugnantes, minhas palavras... Chalaças torpes.!Vergonha!. Eu até tentei me convencer e no limite do meu asco tolerar a vida. Mas essa luz é tão artificial que ao me interpor, meu corpo gerou a sombra da inconformidade e preferi viver num espaço privado sem a refulgência da claridade. Como um réptil peçonhento, prefiro a escuridão.
Sinceramente eu não sei para aonde caminha a humanidade, para aonde segue o meu país tão massacrado. Às vezes me percebo divagando: Qual será o futuro da nação?O que há de ser?O que há de vir?Será que nos resta um futuro?Nossos lideres institucionais possuem desprezo pela moral. Na TV assisto a criação e a futilidade das leis que regem esse país. Enfim, qual o grande nome da democracia? Ela nada adicionou ou subtraiu na minha vida. Quem foi o melhor presidente ou quem representou melhor o povo?Quem nos deu um salário digno?Quem foi o herói nacional? Minhas indagações não terão fim. Vivo num país conformado Vivendo um enorme marasmo. Queria ser um brasileiro com entusiasmo! Utopia minha eu sei... A corrupção destrói meu país. Mas viva o carnaval! Viva o futebol!Para nos alucinar com uma falsa felicidade. Com pornografia e palavrão é assim que exercemos a democracia. Não possuímos esplendor... Sem pátria amada salve! Salve!Esterilidade da esperança. Meu país nunca será varonil. Sem guerras civis para transformar... Mas guerras urbanas sem sentido, sem protesto, sem razão... Sonolenta nação. Qual o orgulho de ser brasileiro o Sexo ou futebol?A coerência é a primeira opção. Brasil meretriz do mundo! Somos uma mistura do belo com o feio. Uma miscigenação que deu errada. Sangue de escravos, negros e europeus. Mas do velho continente a única mestiçagem é a prostituição de nossas crioulas no carnaval. O orgulho de ser negro é a luta pela aceitação. A vontade do índio é a impoluta por terras. O nordestino é visto como um Brasil ímpar Mais pobre feio e esquecido. Quando as manchetes se referem ao Brasil diretamente é falando do centro oeste- sul. Quando se refere ao nordeste, é o povo nordestino. Mas também é Brasil; é muito mais Brasil que qualquer outra região. Então o melhor para todos nós é esquecer quem somos. Vamos tomar uma cachaça no bar e conversar sobre futebol e mulher, Enquanto os sulistas europeus prostituem nossas mulheres. O que mais podemos querer da vida, se somos brasileiros? Têm-se total liberdade libertina. E por causa dessa crença apócrifa, pagamos um alto preço; a maior taxa de juros do planeta. Um castigo por sermos mal agradecidos. E dai?!Se nos presenteiam com futebol e carnaval. E por causa dessa nossa alegria "carnavalesca" suportamos a fome, miséria, desemprego, analfabetismo. Falta-nos saúde, educação... Mas não há motivos para preocupações, a deusa corrupção é onipresente, ela vai nos redimir, sempre esteve disponível a todos. Há um pouco da Corrupção em todos nós. Uma grande comunhão corrupta! Quanto orgulho em ser brasileiro!São tantas glórias... Temos o futebol... E o sexo!O carnaval... E o sexo! Temos o samba, a música da bunda “rebolante”, o sexo musical que nos eleva a um orgasmo rítmico. Temos a super abundancia da bunda. Temos a bunda musicada... E o sexo! O que mais posso querer da vida ò deusa Corrupção? Não atenue seu poder sobre nós. Oferte-nos com o milagre da orgia sistematizada, que sempre a ti daremos total devoção. Louvada seja a deusa do meu povo!Louvada seja a deusa Corrupção!Louvada seja a sociedade esquizofrênica! E por mais que meus pais tentassem me explicar sobre o que era liberdade, sobre os valores sociais. Eu sempre os percebia tão aprisionados pela rotina e não mudava minha visão caótica do mundo. Sempre falavam de esperança... Tudo era esperança!E agora não vejo motivos de nada. Tudo se perdeu. E não é uma murmuração, nem falta de palavras de otimismo. Não é nada disso. Criei-me e cresci com esse sentimento de racionalidade, de sempre ver as coisas como são. Não aprendi a fantasiar. Tudo que vivemos são vaidades tolas, cansaço e mentiras com nossos sonhos de vento. Amor, esperança e a fé. Tudo isso se tornam armas mortais. O sorriso, o toque, a confiança. Tudo é momentâneo. Nada é permanente e exato. O hoje é o que vivemos. E você é conhecido pelo hoje. Porque amanhã aquelas pessoas que estavam com você, poderão não estar mais. E você vai ser pra elas o que foi enquanto estava com elas. Eu não tenho nada que me traga um apego a ter vontade. Hoje estou cansado e exausto, sem brilho e as pessoas que estiveram comigo, vão saber o que eu fui hoje. Então não importa sermos algo pra alguém ou nos determos em caprichos alheios. Você vai perder tempo de qualquer jeito. E poderá não realizar o que quer. Porque o amanhã pode não ser. E tanta coisa que eu perdi por me deter em vontades alheias E passou o tempo... E um dia você vai entender o sentido disso tudo. Mas enfim, o que realmente é a liberdade e a paz? O que Deus vê em tudo que somos e vivemos? São tantas as perguntas sem respostas. Às vezes até penso em valorizar algo neste sistema social em que vivemos, mas não encontro nada digno de aplausos. A escuridão é imensa, a insatisfação é vertiginosa. Desconectei-me da realidade dos homens e aqui no abstrato tudo é esquecimento.
CAPITULO VI- A ÚLTIMA CAMINHADA
Resolvi caminhar um pouco, para fugir da psicose que me possuía. Saí caminhando pelas ruas, avenidas, pelos parques cobertos de casais de namorados apaixonados e cobertos de juras de amor eternas até o próximo verão. Mas não deu resultado logo minha contestação social prolixa e cansativa saltou diante dos meus olhos e o que era para ser um delicioso passeio se tornou na mais nervosa observação. Notei o quanto parecemos idiotas falando ao celular pelos corredores e ruas. E quando nos exercitamos ás margens das avenidas queimando caloria e ingerindo gás carbono, absorvendo a nicotina a cada fumante que encontramos. Com muita ironia procuramos ser a geração saúde com uma alma tão doente... Ficamos tão orgulhosos por sermos o país do carnaval e futebol que logo esquecemos que vivemos uma vida tão mesquinha e miserável. Sem saúde, educação, sem nenhuma qualidade de vida e o nosso salário é tão ridículo... Quem somos nós?Que tipo de civilização construímos? Somos tão inumanos... Ainda há civilização?Vivemos um aglomerado de pessoas. Somos bárbaros digladiadores da nossa espécie. Não há tolerância, pudor, respeito, dignidade. Somos uma criação que perdeu a feição do seu criador. Pensando bem a ciência tem mesmo razão. Somos primos do macaco; tão irracionais. Logo voltei para casa e despercebido por todos que estavam naquela sala como zumbis em frente à TV, entrei para o meu quarto comecei a quebrar tudo ao meu redor. Minhas mãos sagravam por causa dos estilhaços do espelho que havia quebrado. Com os meus pés sagrando deixava pegadas assimétricas pelo chão. Foi quando arrombaram a porta do meu quarto, eram vizinhos, parentes, meus pais todos atônitos com o que estava acontecendo. Em meio aos prantos minha mãe gritava para eu parar e cada vez mais forte eu pisava nos estilhaços pelo chão aumentando o sangramento, já caminhava sobre poças de sangue. Enervado e ofegante bradava mordazes e blasfêmias. Todos começaram a me tratar como um possesso pelo demônio. Parei por um instante com um olhar sem direção, como quem perderá a noção de todas as coisas. E de repente um homem bradou em voz alta era um pastor querendo-me “exorcizar”. E lá da sala ouvia sua voz ecoar no meu quarto: "Ele é louco"! E logo veio um pedido nervoso de silencio. tratava-me como um alienado, alguém que não sabia o que dizia.
- sou louco mesmo! Foi o que respondi a todos. Logo os murmúrios contidos surgiram, acompanhados a um olhar de reprovação.
- E vocês são vermes! Com veracidade bradei . Como um cão raivoso. Contaminado pelo ódio que anseia assassinato, com cacos de vidros nas mãos, ameaçava, enquanto perdia meu sangue quente. Gritava que não encostassem. "Vocês viram isso"?! Todos assustados tentaram dentro de um conceito sensacionalista explicar a situação.
"Deve ser algum problema espiritual"
- Não é espiritual é social! São vocês os culpados. Hipócritas, hedonistas, filhos de satã que dizem fazer a vontade de deus. E por isso irei provocar minha desistência, trazendo a culpa ou a liberdade à consciência de muitos de vocês. E assim sem final feliz, com este canto fúnebre de um ser funesto, sem nenhum ato heróico finalizo minha trajetória sem honra ou glória. Denominado escória, fraudulento e hipócrita, que ao morrer não haverá nenhuma memória Sobre a sua história. Corri pela sala até a janela e antes que eles tomassem alguma atitude me atirei do décimo andar... E pela primeira vez encontrei refúgio, um lugar para descansar. O melhor lugar do mundo. O esconderijo. Escondido até mesmo de mim. Sem saber onde estou quem eu sou, ou até mesmo sem saber, porque aqui estou. Aqui não há pensamentos, pessoas... Só poesia, abstrata, distante, sem semblante. Escondido no vazio estou; sem ódio ou o tal do amor. Na solidão remidora, na loucura, na falta, no excesso, no gozo, no espiritual. Tive medo e me escondi. Espreito pelas janelas da tênue sobriedade e no desmanche da razão eu grito antes que apaguem a luz:- um dia existi! Fim!
Irving Selassié
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