Poemas Antigos
O poeta.
Poeta das amizades
Poeta dos inimigos
Poeta da tristeza
Poeta da sutileza
Sou um poeta inspirado
Na moça que tira a roupa
No banho da vizinha
Na beleza da mulher
Na mão e no pé
No incrédulo e na fé
Sou um poeta mentiroso
Um poeta amador
Um poeta talentoso
Um poeta pretensioso
Sou poeta;
Pelo menos eu creio
Sou poeta
Com lucidez e devaneio
Da hora certa e da hora errada
Sou poeta!
Eu juro que sou poeta!
IRVING SELASSIÉ PESSOA DOS SANTOS
EM 01 DE MARÇO DE 1997
ABBA
O menor na casa de meu Pai
O mais sofrido na casa de meu Pai
O lânguido na casa de meu Pai
O desprezível na casa de meu pai
O litigante na casa de meu Pai
O vumo na casa de meu Pai
O tumor na casa de meu Pai
O escárnio da pessoa de meu pai
O olhar compassivo de meu Pai
O amor no coração de meu Pai
O opróbrio de meu Pai
Sou parricida
A ressureição
O perdão do meu pai
IRVING SELASSIÉ
EM 12 DE ABRIL DE 1999
Litania
Vem, felicidade atenuada!
Conduza-te a mim,
Viva o meu viver.
Vem, felicidade atenuada!
Revigora, alegria extinguida!
Habite no meu ser,
Faça-me gargalhar!
Revigora, alegria extinguida!
Vem, felicidade atenuada!
Revigora, alegria extinguida!
Alenta-me, vida devastada!
Renasce, primavera tardia!
Conduza-te, alegria!
Viva, felicidade!
Habite, vida!
Façam-me feliz
IRVING SELASSIÉ
EM 22 DE ABRIL DE 1999
A nudez do eunuco
Suaves perfumes florais,
Verde por todos os lados,
Arvores, risos, pássaros,
Mãos dadas, risos... gargalhadas.
Delicados passos sobre a grama
Percorrem na sua pureza branda,
Todos na mais perfeita nudez
(Não existem desejos ardentes)
Refugiam-se do mundo
Normalizando o natural,
Transformando nudez em social
Nudistas fogem da vida...
No mundo a nudez é malvista:
Só veem o nu como...comida.
IRVING SELASSIÉ
EM 24 DE ABRIL DE 1999
O homem
Iria falar sobre as estrelas,
Mas o céu se abalou;
Iria navegar sobre o mar,
Mas meu barco naufragou.
Queria cultivar a paz,
Mas o homem é diabólico;
Queria fazer brilhar a luz,
Mas não existe o sol
E a lua caiu do firmamento
Sobre minha cabeça.
E nem estrelas...
E nem a lua...
E nem o sol...
(Hoje não haverá luz)
Estou em completa escuridão...
Não haverá final feliz.
Não haverá mudança.
Hoje o espirito se cala
Para dar lugar à voz
Do homem.
IRVING SELASSIÉ
EM 18 DE ABRIL DE 1998
O INSANO
O insano sustenta seu devaneio...
Corre à beirado abismo
Soltando um grito demente
Brincando com a resposta do seu eco,
Desatinado em seus delírios
Procurando abrigo
Pois a chuva de estrelas se aproxima
Sorri ao olhar para o céu esplendoroso
Mais estrela como nunca
E se fascina ao ver a primeira estrela cair
Mais que depressa, impunimente volta a gritar
Rasga suas vestes
E envolto no chão, une suas mãos e se ajoelha
E, vendo a queda das estrelas,
Abre os braços e fecha os olhos
Como se fizesse uma oração.
As estrelas se aproximam...
Só se ouviu o soar da explosão
O insano desapareceu num clarão.
IRVING SELASSIÉ
Em 12 de março de 1997
LÁZARO
Cansei de estar cansado!
Quero paz na vida!
Tenho que levantar do luto
Curar o vumo das úlceras,
Esquecer a dor de Lázaro...
Mas não consigo.
Se as sequelas estão comigo
Não fiquei famoso com isso
Não me tornei o novo Aleijadinho
Minhas obras não existiram
Meu galardão...
Em mim cuspiram.
IRVING SELASSIÉ
Em 03 de abril de 1999
HOMEM NU
Um homem nu,
Sem nada:
Sem coração
Sem amor
Sem felicidade
Sem caminho
Sem verdade
Sem vida:
Apenas e tão somente
Um pobre homem nu!
SERTÃO
Estou faminto!
Meu estômago grita
Pedindo alimento
A semente não brotou
A chuva não a regou
Estou definhando
Só pele e ossos
Não vou ao banheiro
Pois não tenho o que excretar
O verde se foi
O gado morreu:
É um mundo de ossos!
Abutres se alimentam
De crianças e adultos
Mortos pelo chão
(Esta é a vida no sertão)
Vida magra
O fim não ´surpresa:
A morte de alguém é almoço
E o excremento sobremesa.
IRVING SELASSIÉ
25 DE JULHO DE 1998
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