Biografia do Poeta José Viana.
(...) Hoje busco o porquê das distorções:
O andrógino... O toxicômano...
- rebentos alijados
De uma sociedade espúria.
Vislumbres do Hoje
José Viana
José Viana Pessoa dos santos. Poeta e músico maranhense nascido na cidade de Vargem Grande no dia 22 de fevereiro de 1947. Funcionário público administrativo e Técnico em contabilidade certificado pela Escola técnica do Comércio de São Luis. Ainda exerceu a função professor Regente coral do Ensino Primário; curso certificado pela Faculdade Estadual do Maranhão.
Filho de Raimundo José dos Santos e Nilza Pereira Viana dos Santos. Pais extremamente religiosos protestantes. Criaram o poeta e maneira tradicional na cidade de Vargem Grande com requinte de crueldades focado na educação dos seus filhos. Certa vez o poeta ofenderá um dos seus colegas de aula com palavrões. Sua mãe como forma de disciplina pedia para que o jovem relatasse o ocorrido todos os dias, enquanto sua irmã mais velha anotava tudo. No fogo sua mãe cozinhava ovos e caso o jovem dissesse algo diferente dos outros dias, sua mãe colocava os ovos quentes na sua boca. Outra história relata que um professor de violão frequentava a sua casa com aulas para o jovem Viana. Certa vez aprendendo a música “Quero que vá tudo pro inferno” sua mãe expulsou o professor ao ouvir tal sonata, alegando que ali era uma casa de família e se ele quisesse mandar alguém pro inferno, ali não era o lugar.
Viveu até os 17 anos em Vargem Grande mudando-se para a capital maranhense São Luís por ter sido aprovado em concurso público. Aos 25 anos casou-se com Ester pessoa dos santos com quem teve quatro filhos. Com um casamento conturbado que durou 20 anos. Após o fim do relacionamento o poeta foi morar só, mas ainda permaneceu casado judicialmente. Mesmo assim, o poeta sofreu de amor por sua esposa até o fim da sua vida. Quis o destino que nos últimos dias de sua vida o poeta vitima de AVC e infartos múltiplos recebesse os cuidados de sua amada esposa. Aos 61 anos no dia 06 de outubro de 2008 o poeta veio a falecer.
DOTES ARTÍSTICOS E LITERÁRIOS
Criador do Hino de uma importante cidade do Maranhão; Chapadinha. Usava o pseudônimo de Joseph ou Josivan; participou de diversos concursos literários de renome na cidade de são Luís na década de 70. Sempre ganhando premiações. Participou de concursos como: “CIDADE DE SÃO LUÍS em 11 de janeiro de 1981, onde dividiu o prêmio com Albérico Carneiro Filho que tinha na comissão julgadora nada menos que: Nauro Machado, Carlos Lima e Barcelar Viana. O poeta ainda foi o premiado como vencedor no “CONCURSO DE TROVAS ocorrido em 28 de julho de 1973 de caráter estadual, que instituiu sobre o tema LIBERDADE, em comemoração ao sesquicentenário da adesão do Maranhão à independência do Brasil. O poeta foi chamado de o mais novo trovador da cidade de São Luís, com o pseudônimo de JOVISAN, tornando-se parte do grupo de colaboradores das páginas destinadas à poesia no Jornal. O poeta ainda recebeu o convite para participar do preenchimento de uma das cadeiras da “CASA GONÇALVES DIAS.
O poeta é autor de várias peças teatrais sacro/populares, para encenação em igrejas e escolas, elaborou e ministrou cursos de Iniciação Musical para igrejas e para Prefeitura Municipal de Chapadinha-Ma, forneceu arranjos e composições musicais para a rede municipal, pela Secretaria de Educação do Município de São Luís (Ma) e livros publicados por uma grande editora nacionalmente conhecida, a CPAD.
Em 2005 lança sua última obra “Vidas Antagônicas”, uma homenagem aos praticantes do comercio informal, os camelôs. Uma história de amor com uma literatura simples, porém com uma riqueza poética contextualizada com a realidade social e cultural dessa classe.
Sempre carregou o peso da vida, nunca aceitando nada ao seu redor. Mesclado á música e a poesia; sempre relatava sua insatisfação com o mundo e consigo. Escondia sua obra com esmero, como um tesouro raro a ser descoberto por quem realmente retribuísse valiosa dádiva. Tendo sua vida igualada aos grandes poetas que a literatura conheceu. Possuía a inconformidade da vida, a paixão pela morte e a eterna altercação entre o homem e o amor.
Em 14 de outubro de 2008, morre o poeta. Vítima de uma parada cardíaca.
(...) Cabelo em desalinho,
Olhar perdido,
Passos incertos,
Lá vai o poeta...
(José Viana dos Santos, Uma inspiração lhe persegue a mente)
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Não podemos fechar os olhos para a poesia. Ela é instrumento histórico e artístico em qualquer resgate documental da historia de um povo. A poesia nos sinaliza costumes, fatos heróicos, política e comportamento social. Através da poesia temos a arqueologia literária. Não se pode negar um artista como Viana, que mostrou seu valor enquanto artista, publicando suas obras, participando de concursos literários e sendo premiados em todos que esteve presente. Um poeta visceral e ao mesmo tempo carregado de romantismo.
A bagagem cultural e o desenvolvimento teórico e cientifico literário, é sem dúvida uma das principais características para se analisar os tipos de textos literários existentes. O que faz de José Viana um escritor, é a qualidade da sua obra esquecida dentro da historia literária. Isso nos mostra o quanto à avaliação histórica do nosso estado é falha e não há zelo pela literatura maranhense. Sabemos que novos poetas surgem sempre. È preciso uma profunda reflexão sobre a perspectiva canônica em definir o que é literatura. Não podemos negar um artista como Viana, que mostrou seu valor, publicando sua obra e participando de concursos literários e sendo premiado em todos que esteve presente. Um poeta visceral e ao mesmo tempo carregado de romantismo.
Ora, é preciso imediatamente colocar um problema: "O que
é uma obra? O que é pois essa curiosa unidade que se designa com o nome obra? De quais elementos ela se compõe? Uma obra não é aquilo que é escrito por aquele que é um autor?" Vemos as dificuldades surgirem. Se um indivíduo não fosse um autor, será que se poderia dizer que o que ele escreveu, ou disse, o que ele deixou em seus papéis, o que se pode relatar de suas exposições, poderia ser chamado de "obra"? Enquanto Sade não era um autor, o que eram então esses papéis? Esses rolos de papel sobre os quais, sem parar, durante seus dias de prisão, ele desencadeava seus fantasmas. (Michel FOUCAULT-1969)
A importância de novos escritores para literatura é fato. A maior dificuldade vem das barreiras que existem para que o novo autor seja conhecido pelo cânone literário. Há uma barreira tradicionalista e infecunda que limita a literatura a autores antiquados.
É de suma importância estudar os cânones para um entendimento avaliativo e uma percepção apurada e histórica da literatura; não podemos desvalorizá-lo, mas aceita-lo em sua totalidade nos impede de observar a literatura não alcançada pelos Cânones Literários; não é uma definição do que seja literatura de forma inexorável.
Como por exemplo, o bloqueio ao acesso à consciência de uma identidade própria por parte de grupos étnica e sexualmente definidos: os afro-americanos, os hispânicos, os homossexuais, as mulheres. Neste ambiente multicultural, o cânone das grandes obras e autores é visto como um instrumento de repressão e discriminação ao serviço de interesses dominantes, do poder branco e masculino e de uma ideologia de contornos patriarcais, racistas e imperialistas.
As publicações de obras atualizadas, com contextos culturais e sociais, trarão identificação do leitor com a obra por alcançar a realidade da vida das pessoas. Claro que não quero banalizar a criação literária e aceitar que qualquer um poderá ter sua obra aceita sem uma analise literária que avaliará o peso da obra para ser aceita pelo cânone; os extremos são perigosos. Quero um equilíbrio entre a velha e a nova literatura. Sem barreiras para que o novo escritor talentoso tenha seu espaço junto ao cânone literário. Não quero repudiar o cânone literário, mas descentralizar as publicações literárias construídas pela tradição considerada aristocrática ou própria das elites intelectuais burguesas.
Parece-me, por exemplo, que a maneira com que a critica literária, por muito tempo, definiu o autor -, ou,
antes, construiu a forma autor a partir dos textos e dos discursos existentes - e diretamente derivada da maneira
com que a tradição cristã autentificou (ou, ao contrário, rejeitou) os textos de que dispunha. Em outros termos,para "encontrar" o autor na obra, a crítica moderna utiliza esquemas bastante próximos da exegese cristã, quando ela queria provar o valor de um texto pela santidade do autor. (Michel FOUCAULT-1969)
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Não podemos ficar na esperança de um novo Machado de Assis ou Gonçalves Dias. E sim de um novo poeta com temas deste século, atualizado com a linguagem da modernidade, sem perder a beleza literária. Segundo Graça Paulino (2004) “... Na narrativa de vanguarda do século XX, a construção muitas vezes está voltada para seu próprio eixo lingüístico formal, como significação que parece virar as costas para o mundo externo da vida.”
José Viana em sua obra “Vidas antagônicas” Relata uma historia popular de amor entre duas classes sociais. O romance entre um camelô e uma jovem rica. O enredo possui uma linguagem simples ao alcance popular, mas sem perder o brilho da poesia, sem perder a beleza literária. Dotado de uma percepção aguçada, explorando as possibilidades linguísticas e as manipulando no nível semântico, fonético e sintático.
Segundo o site Brasil Escola, A literatura é uma manifestação artística. E difere das demais pela maneira como se expressa, sua matéria-prima é a palavra, a linguagem. O texto literário se caracteriza pelo predomínio da função poética.
Tudo isso encontramos na obra de Viana, beleza literária e requinte poético. Observe, no poema Procura da Poesia, como o poeta Carlos Drummond de Andrade, é um dos textos de abertura do livro A rosa do povo, que reúne poemas escritos entre 1943 e 1945, o conjunto formado por esses textos resulta numa das mais belas e profundas reflexões sobre o “fazer poético”, sobre a arte e utilidade da poesia.
Procura da Poesia
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
ANDRADE, Carlos Drurmmond de. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro:José Aguilar,1973.
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