JOSÉ VIANA: um talento a ser reconhecido

                                                                              Irving Selassié Pessoa dos Santos[1]
José Ribamar Neres Costa[2]

RESUMO
O trabalho se resume na construção da biografia do poeta José Viana dos Santos. Analisando a obra artística do poeta e fatos marcantes da sua vida. O artigo ainda trata de questionamentos a respeito da definição do que seja literatura e trás um vasto debate sobre os valores do cânone literário ao analisar uma obra literária e defini-la como literatura. O que realmente é levado em consideração ao analisar uma obra se é seu valor literário ou a classe social em que foi criada.
Palavras-chave: José Viana, Biografia, Vida,Literatura.

1   INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo elaborar uma biografia e analisar a obra do poeta e escritor José Viana dos Santos, tornando-o conhecido dos leitores da literatura Maranhense. Através de uma pesquisa minuciosa, pretende-se trazer à tona textos não publicados e outros já publicados, mas que não tiveram grande divulgação. Motivado pela afinidade paternal com o Escritor, pretendo alcançar neste trabalho a atenção que o Poeta merece e o reconhecimento como poeta maranhense. A partir de entrevistas com familiares, texto do arquivo pessoal do Escritor e outros publicados; foi elaborado o presente artigo sobre a vida e a obra de José Viana dos Santos.
Inclusão de novos poetas na literatura maranhense reforça a riqueza literária do estado do Maranhão. Esta pesquisa sobre o poeta José Viana trará mais riqueza a essa literatura. A descoberta de novos poetas trará despertamento de interesse dos alunos que estejam ansiando por algo novo na literatura. A arte literária vai muito mais além do que a institucionalização literária. O pragmatismo pode atrofiar a literatura. A riqueza do poeta Viana em sua obra está fundamentada nos diversos ––concursos de poesias que participou e ganhou premiações, nos livros lançados dentro da literatura cristã ou secular e pela criação do hino de uma importante cidade do maranhão que é Chapadinha; Isto fundamenta sua importância literária.
O trabalho proposto ascende à necessidade da inclusão de novos poetas na literatura maranhense, o enriquecimento cultural e social; enaltecer o valor artístico da nossa região. É instrumento de resgate histórico da poesia maranhense. Aborta uma reflexão profunda de como a obra do escritor José Viana com tanta riqueza artística poderia estar esquecida nos anais da cultura maranhense sem que ninguém a resgatasse. Isto despertou a necessidade de tornar o Poeta conhecido para leitor e relatar a vida desse poeta. Divulgar a sua obra que tem um cunho político, social e religioso. Portanto, é de suma importância para a sociedade Maranhense.

2  LITERATURA,  ARTE E UTILIDADE
Não podemos fechar os olhos para a literatura. Ela é instrumento histórico e artístico em qualquer resgate documental da historia de um povo. A poesia nos sinaliza costumes, fatos heróicos, política e comportamento social. Através da poesia temos a arqueologia literária. Não se pode negar um artista como Viana, que mostrou seu valor enquanto artista, publicando suas obras, participando de concursos literários e sendo premiados em todos que esteve presente. Um poeta visceral e ao mesmo tempo carregado de romantismo.

Dentro das novas abordagens que surgiram nas décadas posteriores, a Nova História Cultural incorporou a literatura às suas fontes de pesquisa sobre questões culturais, especialmente por sua capacidade de veicular crenças, valores, mitos e representações coletivas. A análise literária efetuada nessa perspectiva possibilita, pois, indagar a literatura sob um ângulo social, cultural e histórico. [...] Privilegiando-se o diálogo interdisciplinar entre a história e a literatura, a obra literária passa a ser encarada numa dimensão documental, como um discurso, uma forma de representação, de criação de sentidos para a realidade (ARENDT e PAVANI, 2006, p. 26).

A bagagem cultural e o desenvolvimento teórico e cientifico literário, é sem dúvida uma das principais características para se analisar os tipos de textos literários existentes. O que faz de José Viana um escritor, é a qualidade da sua obra esquecida dentro da historia literária. Isso nos mostra o quanto à avaliação histórica do nosso estado é falha e não há zelo pela literatura maranhense. Sabemos que novos poetas surgem sempre. È preciso uma profunda reflexão sobre a perspectiva canônica em definir o que é literatura.  Não podemos negar um artista como Viana, que mostrou seu valor, publicando sua obra e participando de concursos literários e sendo premiado em todos que esteve presente. Um poeta visceral e ao mesmo tempo carregado de romantismo.

Ora, é preciso imediatamente colocar um problema: "O que é uma obra? O que é, pois essa curiosa unidade que se designa com o nome obra? De quais elementos ela se compõe? Uma obra não é aquilo que é escrito por aquele que é um autor?”Vemos as dificuldades surgirem. Se um indivíduo não fosse um autor, será que se poderia dizer que o que ele escreveu, ou disse, o que ele deixou em seus papéis, o que se pode relatar de suas exposições, poderia ser chamado de "obra"? Enquanto Sade não era um autor, o que eram então esses papéis? Esses rolos de papel sobre os quais, sem parar, durante seus dias de prisão, ele desencadeava seus fantasmas. (FOUCAULT, 2006, p.269)

A importância de novos escritores para literatura é fato. A maior dificuldade vem das barreiras que existem para que o novo autor seja conhecido pelo cânone literário. Há uma barreira tradicionalista e infecunda que limita a literatura a autores antiquados.
É de suma importância estudar os cânones para um entendimento avaliativo e uma percepção apurada e histórica da literatura; não podemos desvalorizá-lo, mas aceita-lo em sua totalidade nos impede de observar a literatura não alcançada pelos Cânones Literários; não é uma definição do que seja literatura de forma inexorável.
Como por exemplo, o bloqueio ao acesso à consciência de uma identidade própria por parte de grupos étnica e sexualmente definidos: os afro-americanos, os hispânicos, os homossexuais, as mulheres. Neste ambiente multicultural, o cânone das grandes obras e autores é visto como um instrumento de repressão e discriminação ao serviço de interesses dominantes, do poder branco e masculino e de uma ideologia de contornos patriarcais, racistas e imperialistas.

A crítica, como seu próprio nome indica, supõe julgamento (krínein). Claro está, desde Kant, que se trata aí de juízo reflexivo e não de juízo determinante. O julgamento estético supõe valores consensuais, mesmo que esses sejam provisórios. O mesmo Kant dizia que, se não se pode provar o bom fundamento dos julgamentos estéticos, há, no entanto, pessoas capazes de fornecer argumentos, e comprovar assim certa autoridade nesse terreno. Os críticos são aqueles que fornecem argumentos em apoio a seus julgamentos. Ora, inexistindo na pósmodernidade critérios de julgamento e hierarquia de valores consensuais, a atividade crítica torna-se extremamente problemática. A desconfiança na estética como disciplina idealista e elitista, a proliferação de critérios particulares e o questionamento do “grande relato” solapam as bases de qualquer crítica (PERRONE-MOISÉS, 2000, p. 340).

As publicações de obras atualizadas, com contextos culturais e sociais, trarão identificação do leitor com a obra por alcançar a realidade da vida das pessoas. Claro que não quero banalizar a criação literária e aceitar que qualquer um poderá ter sua obra aceita sem uma analise literária que avaliará o peso da obra para ser aceita pelo cânone; os extremos são perigosos. Quero um equilíbrio entre a velha e a nova literatura. Sem barreiras para que o novo escritor talentoso tenha seu espaço junto ao cânone literário. Não quero repudiar o cânone literário, mas descentralizar as publicações literárias construídas pela tradição considerada aristocrática ou própria das elites intelectuais burguesas.

por trás de noções como linguagem, cultura, escrita e literatura, mesmo se não as tratarmos (como seria mais indicado) em termos históricos e menos abrangentes, se esconde a noção de poder [e] para trabalhar o conceito de “cânon” é importante ter em mente este horizonte, pois o que se pretende, ao se questionar o processo de canonização de obras literárias é, em última instância, colocar em xeque os mecanismos de poder a ele subjacentes (REIS 1992, p. 68).


 Diante desse universo de autores novos, destaca-se o poeta e escritor José Viana. Com uma obra rica poeticamente e em contextualização social, que abrange uma linguagem popular e sofisticada em seus poemas e livros. E que não deixa a desejar em nada para qualquer poeta contemporâneo ou vanguardista.
Não podemos ficar na esperança de um novo Machado de Assis ou Gonçalves Dias. E sim de um novo poeta com temas deste século, atualizado com a linguagem da modernidade, sem perder a beleza literária. Segundo Graça Paulino (2004) “... Na narrativa de vanguarda do século XX, a construção muitas vezes está voltada para seu próprio eixo lingüístico formal, como significação que parece virar as costas para o mundo externo da vida.”
Inclusão de novos poetas na literatura maranhense reforça a riqueza literária do estado do Maranhão. O poeta José Viana trará mais riqueza a essa literatura. A descoberta de novos poetas trará despertamento de interesse dos alunos que estejam ansiando por algo novo na literatura. A arte literária vai muito mais além do que a institucionalização literária. O pragmatismo pode atrofiar a literatura. Não podemos fechar os olhos para a poesia. Ela é instrumento histórico e artístico em qualquer resgate documental da historia de um povo. A poesia nos sinaliza costumes, fatos heróicos, política e comportamento social. Através da poesia temos a arqueologia literária.    
José Viana em sua obra “Vidas antagônicas” relata uma história popular de amor entre duas classes sociais. O romance entre um camelô e uma jovem rica. O enredo possui uma linguagem simples ao alcance popular, mas sem perder o brilho da poesia, sem perder a beleza literária. Dotado de uma percepção aguçada, explorando as possibilidades linguísticas e as manipulando no nível semântico, fonético e sintático.
Segundo o site Brasil Escola, A literatura é uma manifestação artística. E difere das demais pela maneira como se expressa, sua matéria-prima é a palavra, a linguagem. O texto literário se caracteriza pelo predomínio da função poética.
Tudo isso encontramos na obra de Viana, beleza literária e requinte poético. Observe, no poema Procura da Poesia, como o poeta Carlos Drummond de Andrade, é um dos textos de abertura do livro A rosa do povo, que reúne poemas escritos entre 1943 e 1945, o conjunto formado por esses textos resulta numa das mais belas e profundas reflexões sobre o “fazer poético”, sobre a arte e utilidade da poesia.
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. (...)
                                       (Andrade, 2000, p. 12)
Analisando o poema de Drummond podemos dizer que a poesia é alma sem dono, vento sem direção, gemidos inexprimíveis. Não podemos domesticar um animal selvagem. A poesia vai à busca do leitor e não o leitor em busca da poesia, a poesia é uma descoberta e não uma coletânea de “pergaminhos” canonizados.
2 - JOSÉ VIANA: ASPECTOS BIOGRÁFICOS
(...) Hoje busco o porquê das distorções:
O andrógino... O toxicômano...
- rebentos alijados
De uma sociedade espúria. (...)
(Viana, 1997, p.10)

José Viana Pessoa dos Santos, Poeta e músico maranhense, nascido na cidade de Vargem Grande no dia 22 de fevereiro de 1947, estudou o antigo Primário no grupo escolar Santo Dumont. O ginásio normal; como era chamado na época, no colégio Professor Hemetério Leitão instituição na qual também cursou o ensino médio.
Funcionário público administrativo e Técnico em contabilidade certificado pela Escola técnica do Comércio de São Luis. José Viana exerceu ainda a função professor Regente coral do Ensino Primário; curso certificado pela Faculdade Estadual do Maranhão. Estudou teoria Musical, solfejo e harmonização na escola de música João Câncio Pereira em Vargem Grande no estado do Maranhão
Na música elaborou e ministrou cursos de iniciação musical, que tinha em média a duração de 40 horas, para o Centro de Arte Japiaçu em São Luís do Maranhão, para Igreja Evangélica Assembléia de Deus (são Luís) e prefeitura Municipal de Chapadinha-Ma.
Filho de Raimundo José dos Santos e Nilza Pereira Viana dos Santos. Pais extremamente religiosos protestantes. Criaram o poeta e maneira tradicional na cidade de Vargem Grande com requinte de crueldades focado na educação dos seus filhos.
Em entrevista concedida ao autor deste trabalho, a viúva do poeta Ester Pessoa dos santos destacou entre tantos fatos cruéis da infância de José Viana duas historias marcantes. Um desses fatos é que certa vez o poeta ofenderá um dos seus colegas de aula com palavrões. Dona Nilza Pereira Viana dos Santos, mãe do futuro poeta, como forma de discipliná-lo pedia para que o jovem relatasse o ocorrido todos os dias, enquanto a filha mais velha anotava tudo. No fogo sua mãe cozinhava ovos e caso o jovem dissesse algo diferente dos outros dias, sua mãe colocava os ovos quentes em sua boca.
 Outra história traz requintes de humor relata que um professor de violão frequentava a sua casa com aulas para o jovem Viana. Certa vez aprendendo a música Quero que vá tudo pro inferno do canto Roberto Carlos, sua mãe expulsou o professor ao ouvir tal sonata, alegando que ali era uma casa de família e se ele quisesse mandar alguém para o inferno, ali não era o lugar.
Viveu até os 17 anos em Vargem Grande mudando-se para a capital maranhense São Luís após ter sido aprovado em concurso público. Aos 25 anos casou-se com Ester Pessoa dos Santos com quem teve quatro filhos, Ivânia Saila Pessoa dos Santos, Inara Sydia Pessoa dos Santos, Ivênio Sulivan Pessoa dos Santos e Irving Selassié Pessoa dos Santos. Com um casamento conturbado que durou 20 anos. Após o fim do relacionamento o poeta foi morar só, mas permaneceu casado judicialmente. Mesmo assim, o escritor padeceu de amor por sua esposa até o fim da sua vida. Quis o destino que nos últimos dias de sua vida o poeta vitima de AVC e infartos múltiplos recebesse os cuidados de sua amada esposa. Aos 61 anos no dia 06 de outubro de 2008 ele veio a falecer no Hospital São Domingos em São Luís do Maranhão.
Sempre carregou o peso da vida, nunca aceitando nada ao seu redor. Mesclando música e poesia; sempre relatava sua insatisfação com o mundo e consigo. Escondia sua obra com esmero, como um tesouro raro a ser descoberto por quem realmente reconhecesse essa dádiva. Assim como os grandes poetas José Viana mostrava-se inconformado com a vida, demonstrando certa paixão pela morte e a eterna altercação entre o homem e o amor, como pode ser visto nos versos abaixo do poema Gloria de um poeta Publicado em 1971 pelo Jornal pequeno em São Luís do Maranhão que relata a inconstância e a incerteza da vida levada pelo poeta. 
(...) Cabelo em desalinho,
   Olhar perdido,
   Passos incertos,
   Lá vai o poeta...
   (Viana, Jornal Pequeno, 1971)


2.1   Dotes artísticos e literários

Sempre zeloso e organizado, o poeta arquivava toda a documentação a respeito da sua vida. Facilitando ainda mais o presente trabalho de pesquisa. Através desse achado documentado da vida do poeta foram descobertos dotes artísticos e literários do poeta Viana.
Criador do Hino de uma importante cidade do Maranhão; Chapadinha, cidade em que foi nomeado Cidadão Honorário segundo o decreto em lei n° 18/92 da lei do município. Titulo outorgado pela contribuição cívico/literária. Usando o pseudônimo de Joseph ou Josivan; participou de diversos concursos literários na década de 70. Sempre ganhando premiações. Em pesquisas feitas em publicações antigas do Jornal Pequeno, O Imparcial e o Estado do Maranhão, mais precisamente no final da década de 70 e o começo dos anos 80 como podemos conferir na noticia publicada pelo Jornal o Imparcial no ano de 1981 com o titulo: Concurso literário tem vencedores: “José Viana dos Santos e Albérico Carneiro Filho foram os vencedores do concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”. O resultado foi fornecido pelo secretário de Educação e Ação Comunitária, Benedito Buzar (...)” (Jornal O Imparcial, 1981).
Foram encontradas várias publicações de poemas e participações em concursos literários de renome estadual. Participou de concursos como: “Cidade de São Luís” de 1981, dividiu o prêmio com Albérico Carneiro Filho que tinha na comissão julgadora intelectuais do porte Nauro Machado, Carlos Lima e Barcelar Viana. Na ocasião concorrendo com o trabalho “Antífonas e Réquiens” um volume de poesias selecionadas pelo poeta.  Cerca de uma década antes o poeta havia sido premiado como vencedor no “CONCURSO DE TROVAS ocorrido em 28 de julho de 1973 de caráter estadual, que tinha como tema Liberdade, em comemoração ao sesquicentenário da adesão do Maranhão à independência do Brasil. O poeta foi chamado de o mais novo trovador da cidade de São Luís, com o pseudônimo de Jovisan, tornando-se parte do grupo de colaboradores das páginas destinadas à poesia no Jornal Pequeno no Estado do Maranhão. O poeta ainda recebeu o convite para participar do preenchimento de uma das cadeiras da Casa Gonçalves Dias. A trova com a qual ele venceu o concurso foi a seguinte:

                                       A LIBERDADE decerto,
 A todo mundo faz ver
 Que o Homem só é liberto
 Quando é fiel ao Dever.
 (Viana, Concurso de trovas, 1973)

Além de poeta, José Viana é autor de várias peças teatrais sacro/populares, para encenação em igrejas e escolas, elaborou e ministrou cursos de Iniciação Musical para igrejas e para Prefeitura Municipal de Chapadinha-Ma, forneceu arranjos e composições musicais para a rede municipal, pela Secretaria de Educação do Município de São Luís (Ma).
 Em 2003 é publicou, pela editora CPAD, uma das maiores editoras do ramo religioso, o livro do poeta intitulado Jograis e Representações Bíblicas.  Obra a qual oferece às igrejas cristãs uma série de programações temáticas, visando a abrilhantar as principais celebrações do povo eclesiástico. São jograis e representações para: oração, páscoa, família, missões, escola dominical, quinze anos, dia da bíblia, natal, ano novo etc. Diversos programas atrelados à Bíblia com programações próprias para serem apresentadas dentro do santuário da Igreja, envolvendo na programação, tanto quanto possível, todas as faixas etárias.

                                      (...) (A aniversariante levanta-se e recita a poesia em questão.)
                                      (...)Dou-te graças, Senhor, por minha Vida
                                      Tão radiante e cheia de emoção!
Cada vez mais me sinto protegida
Ao contato da tua santa Mão!
(...)
(Viana, 2010, p.193,)

Em 2005, lançou sua última obra “Vidas Antagônicas”, uma homenagem aos praticantes do comércio informal, os camelôs. Uma história de amor com uma literatura simples, porém com uma riqueza poética contextualizada com a realidade social e cultural dessa classe. Como podemos ver nesse trecho do livro: ”(...) Se estivessem de olhos abertos enquanto se beijavam, os dois teriam visto uma estrela correr pelo céu, deixando após si um rastro de luz. (...)” (Viana, 2005. P.38).
 A historia é narrada em são Luís do maranhão, um romance embalado pela beleza arquitetônica e natural da nossa cidade.
2.2    Vida de poeta romântico
Com uma vida conturbada desde sua criação até a fase adulta o poeta Viana repete um ciclo que acompanhou vários poetas românticos; a infelicidade. Carregado de alta destruição o poeta sempre lamentou a vida e o desprazer de não saber como suportá-la. Foram sonhos não realizados, amores despedaçados, infância problemática e um manancial de sofrimentos que acarretaram o nascimento da poesia romântica na vida do escritor.
José Viana carregava no seu peito uma paixão pela morte, uma palavra adocicada em seus lábios. Parecia a única maneira de sobreviver ao desalento da vida. Seus poemas relatam desassossego pela existência, a continua indagação por ainda estar vivo. Há no seu peito carregado de rancor e remoço uma paixão pelo penar. Algo muito parecido com o que aconteceu com o ultra- romantismo que foi:

A segunda geração da poesia romântica brasileira, marcada pela falência dos ideais nacionalista utópicos dos nossos primeiros românticos. Depressivos, inspirados no poeta inglês Lord Byron, os ultra- românticos são dominados pelo chamado “Mal do Século” ou spleen: o tédio e a melancolia dos que não vêem outra solução para a “dor vivente” senão a morte ou o retorno á infância.
O escape não é mais para a terra utópica de Gonçalves Dias, onde o sabiá canta nas palmeiras, e sim para a infantilidade dos “oito anos” de Casimiro de Abreu (1839 a 1860) ou para a “amiga morte” de Junqueira Freire (1832 a 1855). (BARBOSA, 1997, p.189)

          Com uma poesia romântica depressiva, Viana seguiu a mesma linha dos ultra-românticos, como uma temática muita parecida com a de Junqueira Freire; poeta carregado de culpa, um jovem angustiado e depressivo que se sente incapaz de seguir a vida religiosa e que encontra na morte seu único escape.
4  LITERATURA, CÂNONE E OSTRACISMO

Em toda literatura há os escritores canonizados e os que caem no ostracismo. A palavra cânone deriva do grego antigo kanon, que significava um padrão de medida, “uma norma pela qual todas as coisas são julgadas e avaliadas” (McDonald, 1996:13). O cânone religioso é formado por textos considerados sagrados, como os da Bíblia, que reivindicam inspiração divina. O processo de formação do cânone bíblico envolveu debates entre os líderes das comunidades religiosas e a definição de critérios sob os quais um determinado texto era selecionado. A certa altura desse processo, o cânone foi autoritariamente fechado e novos textos não puderam ser adicionados. De forma semelhante acontece com o cânone literário. Com uma literatura elitizada a aparição de novos poetas na literatura brasileira fica a mercê de um grupo “intelectual” burguês. As classes menos favorecidas na sociedade ficam com sua “literatura de subúrbio” rejeitada pela critica literária. Mas será que não há valor? Não encontramos na atualidade nenhum escritor que possua uma obra escrita e aceita como artisticamente valiosa e representativa de nossa herança cultural? A resposta é sim. Não finalizamos a historia da literatura Brasileira em Dom Casmurro de Machado de Assis. Literatura tem que ser observado como a arte da escrita que explora toda a potencialidade literária nos diversos níveis sociais. Não podemos ter uma literatura limitada por escritores na sua maioria, mortos, brancos e homens. Esse padrão ao ser perpetuado elimina a criação literária que opera fora dessas premissas.
Não podemos também aceitar que a formação do cânone faz parte de um processo conspirativo contra esses grupos é assumir uma posição extrema e improdutiva em termos de reavaliação do cânone. Existem obras não canonizadas que são tão boas quanto as canônicas, o que tem que ser avaliado é o conceito de valor estético e social da obra.

Por trás da definição de literatura está um ato de seleção e exclusão, cujo objetivo é separar alguns textos, escritos por alguns autores do conjunto dos textos em circulação. Os critérios de seleção segundo boa parte dos críticos é a literariedade imanente aos textos, ou seja, afirma-se que os elementos que fazem de um texto qualquer uma obra literária são internos a ele e dele inseparáveis, não tendo qualquer relação com questões externas à obra escrita, tais como o prestígio do autor ou da editora que o publicou, por exemplo. Entretanto, na maior parte das vezes, não são critérios linguísticos, textuais ou estéticos que norteiam essa seleção de escritos e autores. [...] Entra em cena a difícil questão do valor, que tem pouco a ver com os textos e muito a ver com posições políticas e sociais (ABREU, 2006, p. 39).

È preciso um resgate imediato através de uma avaliação artística competente de autores esquecidos na literatura brasileira. Vários poetas, escritores talentosos estão esquecidos na margem da sociedade brasileira. Com obras que reafirmam a herança cultural do nosso povo contextualizada com novos valores adquiridos pela sociedade.
Diante do que foi visto percebemos que os novos poetas e escritores anseiam ter suas obras reconhecidas como instrumento vivo da história de um povo. Talvez muito mais do que estatus eles almejam apenas reconhecimento literário.
4.1 José Viana: Um Poeta no Ostracismo
Ser poeta é realmente ser esquecido, não ser lembrado ou muito menos ter tiragem nas livrarias. È muito mais uma vida de desalentos e insatisfação profunda. Por ter o que dizer e não ter quem leia. Em meio ao universo artístico a poesia agoniza. Grita como uma formiga para a multidão. No rio do capitalismo tenta formatar textos e utopia e só arrecada centavos no igarapé. Os poetas lançam suas obras e ficam mortas nas tumbas das livrarias.
O resgate cultural histórico da literatura maranhense parece que parou no tempo. Estamos congelados em Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Arthur Azevedo, dentre outros. O poder literário do nosso Maranhão não é tão limitado o quanto parece. Pessoas com riqueza poética passam despercebidas nas entrelinhas do mundo literário. E não somente o poeta José Viana, temos vivo no nosso estado o poeta Nauro Machado de uma beleza neo-literária comovente; mas que valor é dado a esses talentos nas academias, escolas e pelo próprio cânone literário que se limita apenas em alimentar uma classe burguesa preconceituosa. Nas faculdades ficamos limitados aos mesmos nomes de poetas canonizados e que viveram uma realidade poética longe dos olhos do século XXI. É preciso renovar a poesia maranhense com talentos que ainda suspiram poesia pelos cantos do nosso estado.
Importante destacar também que o referido ostracismo em que vive o poeta Jose Viana não se reduz apenas ao desconhecimento deste por parte do público leitor, mas também dos críticos, historiadores literários e demais intelectuais que trabalham com a história e com literatura maranhense. Desse modo, pôde-se perceber, ao longo da pesquisa sobre o autor, que, mesmo em trabalhos como os de Cunha (1980), Brasil (1994), Cruz (2006) e Machado (2012), que tratam da produção intelectual do Maranhão das últimas três décadas, o nome de José Viana sequer é citado, deixando claro o ostracismo no qual se encontra o escritor.

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho sobre o poeta José Viana dos Santos além de sua condição biográfica, trouxe um proveitoso questionamento a respeito do cânone literário e a dificuldade encontrada por poetas que desejam sair do ostracismo. Foi ascendida uma profunda reflexão sobre a identificação de novos autores para a literatura, contribuindo para formação de novos leitores libertos do domínio literário pré estabelecido pelo cânone.
Ao fim deste trabalho percemos que é preciso a inclusão de poetas deste século nas cadeiras acadêmicas literárias. Precisamos de uma reciclagem no quadro dos poetas brasileiros, José Viana e outros poetas contemporâneos precisam ter suas obras resgatadas e documentadas para o enriquecimento histórico da poesia brasileira.
È preciso lembrar que o ostracismo poético é causado pelo preconceito geográfico e social. As elites são recebidas com tapetes vermelhos e as classes assalariadas com desprezos e risos enfadonhos. Será que as classes desfavorecidas precisam voltar ao mimeógrafo e panfletar seus poemas para que os leitores tenham acesso a sua obra?A resposta é não. A literatura teve ter seu valor enquanto obra e não a peso de réis.

ABSTRACT
The article summarizes the creation of the biography of the poet José dos Santos Viana. Analyzing Literary Work of the poet and the landmarks of his life. The article also deals with the values ​​used by the literary canon to analyze an author and accepting him as a writer. What is really valid when analyzing a work? The literary merit or social class in which it was created?
Keywords: Jose Viana, Biography, Life, Literature.

REFERÊNCIAS

ABREU, Márcia. Cultura Letrada: Literatura e leitura. São Paulo: UNESP, 2006.

Andrade, Carlos Drummond de, A Rosa do Povo, edição 21, Rio de Janeiro: Record, 2000.

ARENDT, João Cláudio; PAVANI, Cinara Ferreira (2006), ―Imaginário social e representação literária: apontamentos sobre a poesia de Augusto Meyer‖, in Flávio Loureiro Chaves; Elisa Battisti (orgs.), Cultura Regional 2: Língua, História, Literatura. Caxias do Sul, RS: Educs. 

BARBOSA, Frederico. Ler é Aprender, Clássicos da Poesia Brasileira, edição 19, São Paulo: Klick,1997.

BRASIL, Assis. A poesia Maranhense do século XX. São Luís/Rio de Janeiro: Sioge/Imago, 1980.

CRUZ, Arlete Nogueira da. Sal e Sol. Rio de Janeiro: Imago, 2006.

CUNHA, Carlos. As lâmpadas do Sol. São Luís: Fon-Fon, 1980.

FOUCAULT, Michel. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Ditos e escritos III.2.ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

Jornal Imparcial, Seac divulga o resultado do concurso literário, São Luís, 11 de janeiro de 1981

Jornal Pequeno, Viana dos Santos Recebeu Prêmio, São Luís, 09 de agosto de 1973

MACHADO, Nauro. Província: o pó do póstero. São Luís: Edição do AUTOR, 2012.

McDonald, Lee M. The Formation of the Christian Biblical Canon. 2. Ed. Peabody,
MA: Hendrickson, 1996.

PAULINO, Graça. Formação de Leitores: a questão dos cânones literários. Revista Portuguesa de Educação, ano/vol. 17, número 001. Universidade do Minho. Braga, Portugal, 2004.

PERRONE-MOISÉS, Leyla Que fim levou a crítica literária? Inútil poesia e outros ensaios breves. São Paulo: Companhia das letras, 2000.

REIS, R. Cânon. In: JOBIM, José L. Palavras de crítica: tendências e conceitos no estudo da literatura. Rio de Janeiro: Imago, 1992, 65-92.

SANTOS, José Viana dos. Jograis e representações evangélicas,vol.3. Ed.10, editora CPAD, Rio de Janeiro, 2010

SANTOS, José Viana dos. Vidas Antagônicas, publicação independente, São Luís, 2005

SINDSEP-MA, 1º Festival de poesia. São Luís: Santa Clara, 1998.

http://www.brasilescola.com/literatura/o-que-e-literatura.htm
















ANEXOS











[1] Graduando do curso de Letras da Faculdade Atenas Maranhense – FAMA. E-mail: irvingselassie@hotmail.com
[2] Mestre em Educação Pela Universidade Católica de Brasília. Professor da Faculdade Atenas Maranhense. Orientador do artigo. E-mail: joseneres@globo.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CHUVA DE "ISMO".

Além das distorções

O MINISTÉRIO DE JESUS CRISTO (Por Irving Selassié)