JOSÉ
VIANA: um
talento a ser reconhecido
Irving Selassié Pessoa dos Santos[1]
José Ribamar Neres Costa[2]
RESUMO
O trabalho se
resume na construção da biografia do poeta José Viana dos Santos. Analisando a
obra artística do poeta e fatos marcantes da sua vida. O artigo ainda trata de
questionamentos a respeito da definição do que seja literatura e trás um vasto
debate sobre os valores do cânone literário ao analisar uma obra literária e
defini-la como literatura. O que realmente é levado em consideração ao analisar
uma obra se é seu valor literário ou a classe social em que foi criada.
Palavras-chave:
José
Viana, Biografia, Vida,Literatura.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo elaborar uma
biografia e analisar a obra do poeta e escritor José Viana dos Santos,
tornando-o conhecido dos leitores da literatura Maranhense. Através de uma
pesquisa minuciosa, pretende-se trazer à tona textos não publicados e outros já
publicados, mas que não tiveram grande divulgação. Motivado pela afinidade
paternal com o Escritor, pretendo alcançar neste trabalho a atenção que o Poeta
merece e o reconhecimento como poeta maranhense. A partir de entrevistas com
familiares, texto do arquivo pessoal do Escritor e outros publicados; foi
elaborado o presente artigo sobre a vida e a obra de José Viana dos Santos.
Inclusão de novos poetas na literatura maranhense
reforça a riqueza literária do estado do Maranhão. Esta pesquisa sobre o poeta
José Viana trará mais riqueza a essa literatura. A descoberta de novos poetas
trará despertamento de interesse dos alunos que estejam ansiando por algo novo
na literatura. A arte literária vai muito mais além do que a
institucionalização literária. O pragmatismo pode atrofiar a literatura. A
riqueza do poeta Viana em sua obra está fundamentada nos diversos ––concursos
de poesias que participou e ganhou premiações, nos livros lançados dentro da
literatura cristã ou secular e pela criação do hino de uma importante cidade do
maranhão que é Chapadinha; Isto fundamenta sua importância literária.
O trabalho proposto ascende à necessidade da inclusão de novos poetas na literatura
maranhense, o enriquecimento cultural e social; enaltecer o valor artístico da
nossa região. É instrumento de resgate histórico da poesia
maranhense. Aborta uma reflexão profunda de como a obra do escritor José Viana
com tanta riqueza artística poderia estar esquecida nos anais da cultura
maranhense sem que ninguém a resgatasse. Isto despertou a necessidade de tornar
o Poeta conhecido para leitor e relatar a vida desse poeta. Divulgar a sua obra
que tem um cunho político, social e religioso. Portanto, é de suma importância
para a sociedade Maranhense.
2 LITERATURA,
ARTE E UTILIDADE
Não podemos fechar os olhos para a literatura. Ela é
instrumento histórico e artístico em qualquer resgate documental da historia de
um povo. A poesia nos sinaliza costumes, fatos heróicos, política e
comportamento social. Através da poesia temos a arqueologia literária. Não se
pode negar um artista como Viana, que mostrou seu valor enquanto artista,
publicando suas obras, participando de concursos literários e sendo premiados
em todos que esteve presente. Um poeta visceral e ao mesmo tempo carregado de
romantismo.
Dentro das novas abordagens que surgiram
nas décadas posteriores, a Nova História Cultural incorporou a literatura às
suas fontes de pesquisa sobre questões culturais, especialmente por sua
capacidade de veicular crenças, valores, mitos e representações coletivas. A
análise literária efetuada nessa perspectiva possibilita, pois, indagar a
literatura sob um ângulo social, cultural e histórico. [...] Privilegiando-se o
diálogo interdisciplinar entre a história e a literatura, a obra literária
passa a ser encarada numa dimensão documental, como um discurso, uma forma de
representação, de criação de sentidos para a realidade (ARENDT e PAVANI, 2006, p.
26).
A bagagem cultural e o desenvolvimento teórico e
cientifico literário, é sem dúvida uma das principais características para se
analisar os tipos de textos literários existentes. O que faz de José Viana um
escritor, é a qualidade da sua obra esquecida dentro da historia literária.
Isso nos mostra o quanto à avaliação histórica do nosso estado é falha e não há
zelo pela literatura maranhense. Sabemos que novos poetas surgem sempre. È
preciso uma profunda reflexão sobre a perspectiva canônica em definir o que é
literatura. Não podemos negar um artista
como Viana, que mostrou seu valor, publicando sua obra e participando de
concursos literários e sendo premiado em todos que esteve presente. Um poeta
visceral e ao mesmo tempo carregado de romantismo.
Ora, é preciso
imediatamente colocar um problema: "O que é uma obra? O que é, pois essa
curiosa unidade que se designa com o nome obra? De quais elementos ela se
compõe? Uma obra não é aquilo que é escrito por aquele que é um autor?”Vemos as
dificuldades surgirem. Se um indivíduo não fosse um autor, será que se poderia
dizer que o que ele escreveu, ou disse, o que ele deixou em seus papéis, o que
se pode relatar de suas exposições, poderia ser chamado de "obra"?
Enquanto Sade não era um autor, o que eram então esses papéis? Esses rolos de
papel sobre os quais, sem parar, durante seus dias de prisão, ele desencadeava
seus fantasmas. (FOUCAULT,
2006, p.269)
A importância de novos escritores para literatura é
fato. A maior dificuldade vem das barreiras que existem para que o novo autor
seja conhecido pelo cânone literário. Há uma barreira tradicionalista e
infecunda que limita a literatura a autores antiquados.
É de suma importância estudar os cânones para um
entendimento avaliativo e uma percepção apurada e histórica da literatura; não
podemos desvalorizá-lo, mas aceita-lo em sua totalidade nos impede de observar
a literatura não alcançada pelos Cânones Literários; não é uma
definição do que seja literatura de forma inexorável.
Como por exemplo, o bloqueio ao acesso à consciência
de uma identidade própria por parte de grupos étnica e sexualmente definidos:
os afro-americanos, os hispânicos, os homossexuais, as mulheres. Neste ambiente
multicultural, o cânone das grandes obras e autores é visto como um instrumento
de repressão e discriminação ao serviço de interesses dominantes, do poder
branco e masculino e de uma ideologia de contornos patriarcais, racistas e
imperialistas.
A crítica, como seu próprio nome indica,
supõe julgamento (krínein). Claro está, desde Kant, que se trata aí de juízo
reflexivo e não de juízo determinante. O julgamento estético supõe valores
consensuais, mesmo que esses sejam provisórios. O mesmo Kant dizia que, se não
se pode provar o bom fundamento dos julgamentos estéticos, há, no entanto, pessoas
capazes de fornecer argumentos, e comprovar assim certa autoridade nesse
terreno. Os críticos são aqueles que fornecem argumentos em apoio a seus
julgamentos. Ora, inexistindo na pósmodernidade critérios de julgamento e
hierarquia de valores consensuais, a atividade crítica torna-se extremamente
problemática. A desconfiança na estética como disciplina idealista e elitista,
a proliferação de critérios particulares e o questionamento do “grande relato”
solapam as bases de qualquer crítica (PERRONE-MOISÉS, 2000, p. 340).
As publicações de obras atualizadas, com contextos
culturais e sociais, trarão identificação do leitor com a obra por alcançar a
realidade da vida das pessoas. Claro que não quero banalizar a criação
literária e aceitar que qualquer um poderá ter sua obra aceita sem uma analise
literária que avaliará o peso da obra para ser aceita pelo cânone; os extremos
são perigosos. Quero um equilíbrio entre a velha e a nova literatura. Sem
barreiras para que o novo escritor talentoso tenha seu espaço junto ao cânone literário.
Não quero repudiar o cânone literário, mas descentralizar as publicações
literárias construídas pela tradição considerada aristocrática ou própria das
elites intelectuais burguesas.
por trás de noções como linguagem,
cultura, escrita e literatura, mesmo se não as tratarmos (como seria mais
indicado) em termos históricos e menos abrangentes, se esconde a noção de poder
[e] para trabalhar o conceito de “cânon” é importante ter em mente este
horizonte, pois o que se pretende, ao se questionar o processo de canonização
de obras literárias é, em última instância, colocar em xeque os mecanismos de poder
a ele subjacentes (REIS 1992, p. 68).
Diante desse
universo de autores novos, destaca-se o poeta e escritor José Viana. Com uma
obra rica poeticamente e em contextualização social, que abrange uma linguagem
popular e sofisticada em seus poemas e livros. E que não deixa a desejar em
nada para qualquer poeta contemporâneo ou vanguardista.
Não podemos ficar na esperança de um novo Machado de
Assis ou Gonçalves Dias. E sim de um novo poeta com temas deste século,
atualizado com a linguagem da modernidade, sem perder a beleza literária.
Segundo Graça Paulino (2004) “... Na narrativa de vanguarda do século XX, a
construção muitas vezes está voltada para seu próprio eixo lingüístico formal,
como significação que parece virar as costas para o mundo externo da vida.”
Inclusão de novos poetas na literatura maranhense
reforça a riqueza literária do estado do Maranhão. O poeta José Viana trará
mais riqueza a essa literatura. A descoberta de novos poetas trará
despertamento de interesse dos alunos que estejam ansiando por algo novo na
literatura. A arte literária vai muito mais além do que a institucionalização
literária. O pragmatismo pode atrofiar a literatura. Não podemos fechar os
olhos para a poesia. Ela é instrumento histórico e artístico em qualquer
resgate documental da historia de um povo. A poesia nos sinaliza costumes,
fatos heróicos, política e comportamento social. Através da poesia temos a
arqueologia literária.
José Viana em sua obra “Vidas antagônicas” relata uma
história popular de amor entre duas classes sociais. O romance entre um camelô
e uma jovem rica. O enredo possui uma linguagem simples ao alcance popular, mas
sem perder o brilho da poesia, sem perder a beleza literária. Dotado de uma
percepção aguçada, explorando as possibilidades linguísticas e as manipulando
no nível semântico, fonético e sintático.
Segundo o site Brasil Escola, A literatura é uma
manifestação artística. E difere das demais pela maneira como se expressa, sua
matéria-prima é a palavra, a linguagem. O texto literário se caracteriza pelo
predomínio da função poética.
Tudo isso encontramos na obra de Viana, beleza
literária e requinte poético. Observe, no poema Procura da Poesia, como o poeta
Carlos Drummond de Andrade, é um dos textos de abertura do livro A rosa do
povo, que reúne poemas escritos entre 1943 e 1945, o conjunto formado por esses
textos resulta numa das mais belas e profundas reflexões sobre o “fazer
poético”, sobre a arte e utilidade da poesia.
Não faças versos
sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. (...)
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia. (...)
(Andrade, 2000, p. 12)
Analisando
o poema de Drummond podemos dizer que a poesia é alma sem dono, vento sem direção,
gemidos inexprimíveis. Não podemos domesticar um animal selvagem. A poesia vai
à busca do leitor e não o leitor em busca da poesia, a poesia é uma descoberta
e não uma coletânea de “pergaminhos” canonizados.
2 - JOSÉ VIANA:
ASPECTOS BIOGRÁFICOS
(...) Hoje busco
o porquê das distorções:
O andrógino... O
toxicômano...
- rebentos
alijados
De uma sociedade
espúria. (...)
(Viana, 1997, p.10)
José Viana Pessoa dos Santos, Poeta e músico
maranhense, nascido na cidade de Vargem Grande no dia 22 de fevereiro de 1947,
estudou o antigo Primário no grupo escolar Santo Dumont. O ginásio normal; como
era chamado na época, no colégio Professor Hemetério Leitão instituição na qual
também cursou o ensino médio.
Funcionário público administrativo e Técnico em
contabilidade certificado pela Escola técnica do Comércio de São Luis. José
Viana exerceu ainda a função professor Regente coral do Ensino Primário; curso
certificado pela Faculdade Estadual do Maranhão. Estudou teoria Musical,
solfejo e harmonização na escola de música João Câncio Pereira em Vargem Grande
no estado do Maranhão
Na música elaborou e ministrou cursos de iniciação
musical, que tinha em média a duração de 40 horas, para o Centro de Arte
Japiaçu em São Luís do Maranhão, para Igreja Evangélica Assembléia de Deus (são
Luís) e prefeitura Municipal de Chapadinha-Ma.
Filho de Raimundo José dos Santos e Nilza Pereira
Viana dos Santos. Pais extremamente religiosos protestantes. Criaram o poeta e
maneira tradicional na cidade de Vargem Grande com requinte de crueldades
focado na educação dos seus filhos.
Em entrevista concedida ao autor deste trabalho, a
viúva do poeta Ester Pessoa dos santos destacou entre tantos fatos cruéis da
infância de José Viana duas historias marcantes. Um desses fatos é que certa
vez o poeta ofenderá um dos seus colegas de aula com palavrões. Dona Nilza
Pereira Viana dos Santos, mãe do futuro poeta, como forma de discipliná-lo
pedia para que o jovem relatasse o ocorrido todos os dias, enquanto a filha
mais velha anotava tudo. No fogo sua mãe cozinhava ovos e caso o jovem dissesse
algo diferente dos outros dias, sua mãe colocava os ovos quentes em sua boca.
Outra história
traz requintes de humor relata que um professor de violão frequentava a sua
casa com aulas para o jovem Viana. Certa vez aprendendo a música Quero que vá
tudo pro inferno do canto Roberto Carlos, sua mãe expulsou o professor ao ouvir
tal sonata, alegando que ali era uma casa de família e se ele quisesse mandar
alguém para o inferno, ali não era o lugar.
Viveu até os 17 anos em Vargem Grande mudando-se para
a capital maranhense São Luís após ter sido aprovado em concurso público. Aos
25 anos casou-se com Ester Pessoa dos Santos com quem teve quatro filhos,
Ivânia Saila Pessoa dos Santos, Inara Sydia Pessoa dos Santos, Ivênio Sulivan
Pessoa dos Santos e Irving Selassié Pessoa dos Santos. Com um casamento
conturbado que durou 20 anos. Após o fim do relacionamento o poeta foi morar
só, mas permaneceu casado judicialmente. Mesmo assim, o escritor padeceu de
amor por sua esposa até o fim da sua vida. Quis o destino que nos últimos dias
de sua vida o poeta vitima de AVC e infartos múltiplos recebesse os cuidados de
sua amada esposa. Aos 61 anos no dia 06 de outubro de 2008 ele veio a falecer
no Hospital São Domingos em São Luís do Maranhão.
Sempre carregou o peso da vida, nunca aceitando nada
ao seu redor. Mesclando música e poesia; sempre relatava sua insatisfação com o
mundo e consigo. Escondia sua obra com esmero, como um tesouro raro a ser
descoberto por quem realmente reconhecesse essa dádiva. Assim como os grandes
poetas José Viana mostrava-se inconformado com a vida, demonstrando certa
paixão pela morte e a eterna altercação entre o homem e o amor, como pode ser
visto nos versos abaixo do poema Gloria de um poeta Publicado em 1971 pelo
Jornal pequeno em São Luís do Maranhão que relata a inconstância e a incerteza
da vida levada pelo poeta.
(...) Cabelo em desalinho,
Olhar perdido,
Passos incertos,
Lá vai o poeta...
(Viana, Jornal Pequeno, 1971)
2.1 Dotes artísticos
e literários
Sempre zeloso e organizado, o poeta arquivava toda a
documentação a respeito da sua vida. Facilitando ainda mais o presente trabalho
de pesquisa. Através desse achado documentado da vida do poeta foram
descobertos dotes artísticos e literários do poeta Viana.
Criador do Hino de uma
importante cidade do Maranhão; Chapadinha, cidade em que foi nomeado Cidadão
Honorário segundo o decreto em lei n° 18/92 da lei do município. Titulo
outorgado pela contribuição cívico/literária. Usando o pseudônimo de Joseph ou
Josivan; participou de diversos concursos literários na década de 70. Sempre
ganhando premiações. Em pesquisas feitas em publicações antigas do Jornal
Pequeno, O Imparcial e o Estado do Maranhão, mais precisamente no final da
década de 70 e o começo dos anos 80 como podemos conferir na noticia publicada
pelo Jornal o Imparcial no ano de 1981 com o titulo: Concurso literário tem
vencedores: “José Viana dos Santos e Albérico Carneiro Filho foram os
vencedores do concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”. O resultado
foi fornecido pelo secretário de Educação e Ação Comunitária, Benedito Buzar
(...)” (Jornal O Imparcial, 1981).
Foram encontradas várias
publicações de poemas e participações em concursos literários de renome
estadual. Participou de concursos como: “Cidade de São Luís” de 1981, dividiu o
prêmio com Albérico Carneiro Filho que tinha na comissão julgadora intelectuais
do porte Nauro Machado, Carlos Lima e Barcelar Viana. Na ocasião concorrendo
com o trabalho “Antífonas e Réquiens” um volume de poesias selecionadas pelo
poeta. Cerca de uma década antes o poeta
havia sido premiado como vencedor no “CONCURSO DE TROVAS ocorrido em 28 de
julho de 1973 de caráter estadual, que tinha como tema Liberdade, em comemoração ao sesquicentenário da adesão do Maranhão
à independência do Brasil. O poeta foi chamado de o mais novo trovador da
cidade de São Luís, com o pseudônimo de Jovisan, tornando-se parte do grupo de
colaboradores das páginas destinadas à poesia no Jornal Pequeno no Estado do
Maranhão. O poeta ainda recebeu o convite para participar do preenchimento de
uma das cadeiras da Casa Gonçalves Dias. A trova com a qual ele venceu o
concurso foi a seguinte:
A
LIBERDADE decerto,
A todo
mundo faz ver
Que o
Homem só é liberto
Quando
é fiel ao Dever.
(Viana,
Concurso de trovas, 1973)
Além de poeta, José Viana é autor de várias peças
teatrais sacro/populares, para encenação em igrejas e escolas, elaborou e
ministrou cursos de Iniciação Musical para igrejas e para Prefeitura Municipal
de Chapadinha-Ma, forneceu arranjos e composições musicais para a rede
municipal, pela Secretaria de Educação do Município de São Luís (Ma).
Em 2003 é publicou, pela editora CPAD, uma das
maiores editoras do ramo religioso, o livro do poeta intitulado Jograis e
Representações Bíblicas. Obra a qual
oferece às igrejas cristãs uma série de programações temáticas, visando a
abrilhantar as principais celebrações do povo eclesiástico. São jograis e
representações para: oração, páscoa, família, missões, escola dominical, quinze
anos, dia da bíblia, natal, ano novo etc. Diversos programas atrelados à Bíblia
com programações próprias para serem apresentadas dentro do santuário da
Igreja, envolvendo na programação, tanto quanto possível, todas as faixas
etárias.
(...)
(A aniversariante levanta-se e recita a poesia em questão.)
(...)Dou-te graças, Senhor, por minha Vida
Tão
radiante e cheia de emoção!
Cada
vez mais me sinto protegida
Ao
contato da tua santa Mão!
(...)
(Viana,
2010, p.193,)
Em 2005, lançou sua última obra “Vidas Antagônicas”,
uma homenagem aos praticantes do comércio informal, os camelôs. Uma história de
amor com uma literatura simples, porém com uma riqueza poética contextualizada
com a realidade social e cultural dessa classe. Como podemos ver nesse trecho
do livro: ”(...) Se estivessem de olhos abertos enquanto se beijavam, os dois
teriam visto uma estrela correr pelo céu, deixando após si um rastro de luz.
(...)” (Viana, 2005. P.38).
A historia é narrada
em são Luís do maranhão, um romance embalado pela beleza arquitetônica e
natural da nossa cidade.
2.2 Vida de poeta romântico
Com
uma vida conturbada desde sua criação até a fase adulta o poeta Viana repete um
ciclo que acompanhou vários poetas românticos; a infelicidade. Carregado de
alta destruição o poeta sempre lamentou a vida e o desprazer de não saber como
suportá-la. Foram sonhos não realizados, amores despedaçados, infância
problemática e um manancial de sofrimentos que acarretaram o nascimento da
poesia romântica na vida do escritor.
José
Viana carregava no seu peito uma paixão pela morte, uma palavra adocicada em
seus lábios. Parecia a única maneira de sobreviver ao desalento da vida. Seus
poemas relatam desassossego pela existência, a continua indagação por ainda
estar vivo. Há no seu peito carregado de rancor e remoço uma paixão pelo penar.
Algo muito parecido com o que aconteceu com o ultra- romantismo que foi:
A segunda
geração da poesia romântica brasileira, marcada pela falência dos ideais
nacionalista utópicos dos nossos primeiros românticos. Depressivos, inspirados
no poeta inglês Lord Byron, os ultra- românticos são dominados pelo chamado
“Mal do Século” ou spleen: o tédio e a melancolia dos que não vêem outra
solução para a “dor vivente” senão a morte ou o retorno á infância.
O escape não é
mais para a terra utópica de Gonçalves Dias, onde o sabiá canta nas palmeiras,
e sim para a infantilidade dos “oito anos” de Casimiro de Abreu (1839 a 1860)
ou para a “amiga morte” de Junqueira Freire (1832 a 1855). (BARBOSA, 1997,
p.189)
Com uma poesia romântica depressiva, Viana seguiu a mesma linha dos
ultra-românticos, como uma temática muita parecida com a de Junqueira Freire;
poeta carregado de culpa, um jovem angustiado e depressivo que se sente incapaz
de seguir a vida religiosa e que encontra na morte seu único escape.
4 LITERATURA,
CÂNONE E OSTRACISMO
Em toda literatura há os
escritores canonizados e os que caem no ostracismo. A palavra cânone deriva do
grego antigo kanon, que significava um padrão de medida, “uma norma pela qual
todas as coisas são julgadas e avaliadas” (McDonald, 1996:13). O cânone
religioso é formado por textos considerados sagrados, como os da Bíblia, que
reivindicam inspiração divina. O processo de formação do cânone bíblico
envolveu debates entre os líderes das comunidades religiosas e a definição de
critérios sob os quais um determinado texto era selecionado. A certa altura desse
processo, o cânone foi autoritariamente fechado e novos textos não puderam ser
adicionados. De forma semelhante acontece com o cânone literário. Com uma literatura elitizada a aparição de
novos poetas na literatura brasileira fica a mercê de um grupo “intelectual”
burguês. As classes menos favorecidas na sociedade ficam com sua “literatura de
subúrbio” rejeitada pela critica literária. Mas será que não há valor? Não
encontramos na atualidade nenhum escritor que possua uma obra escrita e aceita
como artisticamente valiosa e representativa de nossa herança cultural? A
resposta é sim. Não finalizamos a historia da literatura Brasileira em Dom
Casmurro de Machado de Assis. Literatura tem que ser observado como a arte da
escrita que explora toda a potencialidade literária nos diversos níveis
sociais. Não podemos ter uma literatura limitada por escritores na sua maioria,
mortos, brancos e homens. Esse padrão ao ser perpetuado elimina a criação
literária que opera fora dessas premissas.
Não podemos também aceitar que a formação do
cânone faz parte de um processo conspirativo contra esses grupos é assumir uma
posição extrema e improdutiva em termos de reavaliação do cânone. Existem obras
não canonizadas que são tão boas quanto as canônicas, o que tem que ser avaliado
é o conceito de valor estético e social da obra.
Por trás da definição de literatura está
um ato de seleção e exclusão, cujo objetivo é separar alguns textos, escritos
por alguns autores do conjunto dos textos em circulação. Os critérios de
seleção segundo boa parte dos críticos é a literariedade imanente aos textos,
ou seja, afirma-se que os elementos que fazem de um texto qualquer uma obra
literária são internos a ele e dele inseparáveis, não tendo qualquer relação
com questões externas à obra escrita, tais como o prestígio do autor ou da
editora que o publicou, por exemplo. Entretanto, na maior parte das vezes, não
são critérios linguísticos, textuais ou estéticos que norteiam essa seleção de
escritos e autores. [...] Entra em cena a difícil questão do valor, que tem
pouco a ver com os textos e muito a ver com posições políticas e sociais
(ABREU, 2006, p. 39).
È preciso um resgate imediato através de uma avaliação
artística competente de autores esquecidos na literatura brasileira. Vários
poetas, escritores talentosos estão esquecidos na margem da sociedade
brasileira. Com obras que reafirmam a herança cultural do nosso povo
contextualizada com novos valores adquiridos pela sociedade.
Diante do que foi visto percebemos que os novos poetas
e escritores anseiam ter suas obras reconhecidas como instrumento vivo da
história de um povo. Talvez muito mais do que estatus eles almejam apenas
reconhecimento literário.
4.1
José Viana: Um Poeta no Ostracismo
Ser poeta é realmente ser
esquecido, não ser lembrado ou muito menos ter tiragem nas livrarias. È muito
mais uma vida de desalentos e insatisfação profunda. Por ter o que dizer e não
ter quem leia. Em meio ao universo
artístico a poesia agoniza. Grita como uma formiga para a multidão. No rio do
capitalismo tenta formatar textos e utopia e só arrecada centavos no igarapé.
Os poetas lançam suas obras e ficam mortas nas tumbas das livrarias.
O resgate cultural histórico
da literatura maranhense parece que parou no tempo. Estamos congelados em
Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Arthur Azevedo, dentre outros. O poder literário
do nosso Maranhão não é tão limitado o quanto parece. Pessoas com riqueza
poética passam despercebidas nas entrelinhas do mundo literário. E não somente
o poeta José Viana, temos vivo no nosso estado o poeta Nauro Machado de uma
beleza neo-literária comovente; mas que valor é dado a esses talentos nas
academias, escolas e pelo próprio cânone literário que se limita apenas em
alimentar uma classe burguesa preconceituosa. Nas faculdades ficamos limitados
aos mesmos nomes de poetas canonizados e que viveram uma realidade poética
longe dos olhos do século XXI. É preciso renovar a poesia maranhense com
talentos que ainda suspiram poesia pelos cantos do nosso estado.
Importante destacar também
que o referido ostracismo em que vive o poeta Jose Viana não se reduz apenas ao
desconhecimento deste por parte do público leitor, mas também dos críticos,
historiadores literários e demais intelectuais que trabalham com a história e
com literatura maranhense. Desse modo, pôde-se perceber, ao longo da pesquisa
sobre o autor, que, mesmo em trabalhos como os de Cunha (1980), Brasil (1994),
Cruz (2006) e Machado (2012), que tratam da produção intelectual do Maranhão
das últimas três décadas, o nome de José Viana sequer é citado, deixando claro
o ostracismo no qual se encontra o escritor.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho sobre o poeta José Viana dos Santos além de sua condição biográfica,
trouxe um proveitoso questionamento a respeito do cânone literário e a
dificuldade encontrada por poetas que desejam sair do ostracismo. Foi ascendida
uma profunda reflexão sobre a identificação de novos autores para a literatura,
contribuindo para formação de novos leitores libertos do domínio literário pré
estabelecido pelo cânone.
Ao fim deste trabalho percemos que é preciso a inclusão de poetas deste
século nas cadeiras acadêmicas literárias. Precisamos de uma reciclagem no
quadro dos poetas brasileiros, José Viana e outros poetas contemporâneos
precisam ter suas obras resgatadas e documentadas para o enriquecimento histórico
da poesia brasileira.
È preciso lembrar que o ostracismo poético é causado pelo preconceito
geográfico e social. As elites são recebidas com tapetes vermelhos e as classes
assalariadas com desprezos e risos enfadonhos. Será que as classes
desfavorecidas precisam voltar ao mimeógrafo e panfletar seus poemas para que
os leitores tenham acesso a sua obra?A resposta é não. A literatura teve ter
seu valor enquanto obra e não a peso de réis.
ABSTRACT
The article summarizes the creation of the biography
of the poet José dos Santos Viana. Analyzing Literary Work of the poet and the
landmarks of his life. The article also deals with the values used by the
literary canon to analyze an author and accepting him as a writer. What is
really valid when analyzing a work? The literary merit or social class in which
it was created?
Keywords: Jose Viana, Biography, Life, Literature.
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http://www.brasilescola.com/literatura/o-que-e-literatura.htm
ANEXOS
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